De acordo com a Academia Americana de Microbiologia, o trato digestivo humano abriga “três vezes mais bactérias do que células em todo o corpo”. Apesar de seu tamanho diminuto, essas bactérias desempenham funções essenciais para a nossa saúde e bem-estar. Por exemplo, são responsáveis pela metabolização e síntese de certos nutrientes, como as vitaminas K e B7, que nosso organismo não consegue processar sozinho. Além disso, a composição da microbiota intestinal — formada por centenas de tipos de bactérias — tem sido associada a diversas condições de saúde, incluindo doenças neurodegenerativas como o mal de Parkinson.
Nos últimos anos, a ciência tem se dedicado a estudar os efeitos da flora intestinal na saúde, reconhecendo cada vez mais sua importância. Agora, pesquisadores da Brown University, nos Estados Unidos, descobriram uma relação fundamental entre a microbiota, o sistema imunológico e os processos inflamatórios. Essa descoberta abre caminho para novas abordagens no estudo e tratamento de diversas doenças, como a doença de Crohn.
“Uma descoberta crucial para entender e tratar doenças autoimunes e inflamatórias”
Os pesquisadores observaram que os microrganismos presentes no intestino, além de viverem em simbiose conosco — fornecemos a eles um ambiente adequado e os nutrientes necessários, enquanto eles desempenham funções essenciais para o nosso organismo — também têm a capacidade de regular nosso sistema imunológico.
Embora o corpo humano seja altamente sofisticado, capaz de identificar e memorizar ameaças para combatê-las, ele pode, por vezes, atacar organismos que não são necessariamente prejudiciais. No entanto, uma microbiota saudável consegue coexistir pacificamente com o sistema imunológico. O estudo revelou que certas bactérias regulam a quantidade de vitamina A no trato digestivo, um fator que influencia diretamente a atividade das nossas defesas. “Essa descoberta pode ser um marco na compreensão e no tratamento de doenças autoimunes e inflamatórias”, afirmou um dos cientistas envolvidos na pesquisa.
Para dimensionar a importância dessa simbiose entre os microrganismos e o corpo humano, basta considerar que “mais de 100 trilhões de bactérias evoluíram e se adaptaram ao interior do nosso organismo”. Sem elas, nossa saúde estaria seriamente comprometida.
Como isso impacta a nossa saúde?
De um ponto de vista global, a deficiência de vitamina A é um problema de saúde pública que afeta milhões de pessoas, principalmente na África e no Sudeste Asiático. A descoberta do papel de certas bactérias, como a Clostridia, na produção e manutenção de bons níveis dessa vitamina é fundamental, pois sua deficiência pode causar cegueira, comprometer o sistema imunológico e levar a malformações congênitas.
Além disso, os pesquisadores observaram que as variações nos níveis de vitamina A coincidem com mudanças na atividade de doenças inflamatórias, como a síndrome do intestino irritável. Esse achado não se limita a essa condição, mas também se estende a doenças como a de Crohn, a diverticulite e a colite ulcerativa. Todas essas enfermidades, apesar dos tratamentos disponíveis, estão diretamente relacionadas à resposta do sistema imunológico e à composição da microbiota intestinal.
Ainda há muito a ser pesquisado, mas as descobertas sobre a relação entre os 100 trilhões de bactérias que habitam nosso corpo e nossa saúde reforçam a importância do investimento científico no estudo do microbioma. A ciência já sabe que ele desempenha um papel essencial — e os avanços nessa área podem revolucionar a medicina preventiva e o tratamento de diversas doenças.
Fonte: Bienestar